As plataformas estão a mudar o equilíbrio do poder das empresas, governos e países.
As plataformas digitais assumiram um estatuto estruturante sobre o quotidiano dos europeus e, embora os benefícios sejam evidentes, as dinâmicas do mercado digital global geraram fenómenos de concentração de poder e de influência política e social circunscritos a um número bastante reduzido de operadores, com riscos de caráter sistémico igualmente evidentes.
Mas nem sempre é possível aproveitar o potencial das novas tecnologias sem alterar como se organizam as atividades económicas.
Quando se compara ecossistemas empresariais com os ecossistemas baseados em plataformas, incluindo o papel da tecnologia digital, o ecossistema baseado em plataformas torna-se global por natureza com milhares de milhões de utilizadores e inúmeros interlocutores operacionais.
Economia baseada em Plataformas
As plataformas digitais são a forma predominante de organização da atividade económica no século XXI. Há definições variadas, mas há consenso de que plataformas digitais coordenam e intermedeiam transações, monetárias ou não, entre dois ou mais grupos via Internet. O ambiente virtual propicia que essa intermediação mobilize ferramentas inteligentes, como algoritmos de recomendação, motores de pesquisa e a classificação de informação.
A transição para uma economia baseada em plataformas, no século XXI, é resumida pelo historiador Niall Ferguson, no seu livro The Square and the Tower: Networks and Power.
O autor refere que a maior parte da história é hierárquica: descreve papas, presidentes e líderes revolucionários.
Nenhum indivíduo, por mais talentoso que seja, tem a capacidade de enfrentar todos os desafios da governação imperial, e quase ninguém é capaz de resistir às tentações corruptoras do poder absoluto.
Uma das principais diferenças institucionais da economia de plataformas é o papel do ecossistema.
E um dos assuntos do momento é o entendimento sobre a forma de reconhecer um contrato de trabalho entre um trabalhador e uma plataforma digital, ou seja, a vinculação com a plataforma ou com «uma empresa que nela opere».
Esta é a prova de que a força dos ecossistemas é desenvolvida e alimentada não por regiões ou governos, mas por organizações de plataformas.
A governação dos ecossistemas — isto é, as regras para quem entra numa plataforma e o que constitui um bom comportamento — é determinada pelos proprietários da empresa da plataforma.
Empreendedorismo na era digital
Existe uma lacuna significativa na conceptualização do empreendedorismo na era digital precisamente porque ignorou o papel fundamental do conhecimento como um recurso na economia.
A grande transformação tecnológica está a trabalhar a sociedade do valor-trabalho para a sociedade do valor-dados ou valor-informação.
Ecossistema Empresarial
Para colmatar esta lacuna, Sussan e Acs (2017) idealizaram o Ecossistema Empresarial Digital, com a seguinte estrutura:
(1) Cidadania do Utilizador Digital, que inclui utilizadores do lado da procura e do lado da oferta;
(2) Empreendedorismo Tecnológico Digital, que inclui criadores de aplicações e vários agentes que contribuem para a inovação empresarial, experimentação e criação de valor em plataformas;
(3) Plataformas Digitais Multifacetadas, que orquestram atividades sociais e económicas entre utilizadores e agentes;
(4) Infraestruturas Tecnológicas Digitais, que pertencem a todos os regulamentos que regem as atividades técnicas, sociais e económicas da tecnologia digital (Fig. 2.1).
Cidadania do utilizador digital
A proteção da privacidade dos utilizadores é fundamental para uma cidadania do utilizador digital saudável e ativo.
Se a confiança do público for corroída, a sustentabilidade do ecossistema empresarial digital sofre.
A erosão da confiança nas plataformas pode levar a um declínio na atividade ou na adesão dos utilizadores.
Por exemplo, o escândalo do Facebook envolvendo a Cambridge Analytica expôs os dados de milhões de utilizadores e tornou-se um momento crítico que levou a mais regulamentação governamental da Internet para proteger a privacidade dos consumidores.
Desde então, o Facebook tem movimentos oscilantes na atividade de utilizadores ativos diários na Europa.
Outro aspeto importante é o grau de literacia digital da população e respetivas competências digitais, o que leva à reflexão sobre os modelos de ensino, educação e formação profissional.
Empreendedorismo tecnológico digital
Em segundo lugar, o empreendedorismo tecnológico digital traz a inovação empresarial e aumenta assim a eficiência da plataforma.
Quanto maior for a base de utilizadores, maiores serão os segmentos e nichos de mercado.
Alguns críticos queixaram-se, ao longo dos anos, de que as comissões altas da Apple Store e o controlo feroz sobre a sua loja de aplicações podem limitar a experimentação, a inovação empresarial e a criação de valor.
Plataformas digitais multifacetadas
Em terceiro lugar, as plataformas digitais multifacetadas são uma inovação organizacional emergente caracterizada pela tecnologia e processos sociais.
A rastreabilidade da informação digitalizada está presente nos motores de pesquisa, nas redes sociais, em plataformas de compra e venda e em inúmeras aplicações onde aceitamos os termos e condições, abrindo as portas da nossa privacidade e liberdade individual.
O comportamento monopolista irá asfixiar a concorrência, a inovação e as atividades empresariais, resultando numa perda de bem-estar para os consumidores e a sociedade como um todo.
Por exemplo, os reguladores europeus penalizaram a Google por três violações anti-trust: por empurrar injustamente as suas aplicações para os utilizadores de smartphones e bloquear os seus rivais; por utilizar o seu motor de pesquisa para orientar os consumidores para as suas próprias plataformas de compras; e por bloquear os seus rivais de colocar anúncios em websites de terceiros.
A Apple tem agora uma avaliação de mercado de 3 biliões, na numeração anglo-saxónica. A dona do iPhone voltou a fazer história e a fundar um novo clube dos riscos na história da tecnologia e das empresas.
A avaliação de mercado da Apple é mais do que Walmart, Disney, Netflix, Nike, Exxon Mobil, Coca-Cola, McDonald’s, Goldman Sachs, Boeing, IBM e Ford… todos juntos.
Infraestruturas Tecnológicas Digitais
Em quarto lugar, as Infraestruturas Tecnológicas Digitais permitem que a economia da plataforma funcione.
A infraestrutura digital representa a tecnologia da era digital, juntamente com as regras e regulamentos que regem a sua utilização.
Esta infraestrutura tecnológica é crucial para o bom funcionamento do DPE, que é responsável por manter a economia digital aberta e segura.
O gigante chinês de smartphones e telecomunicações Huawei foi acusado de ser controlado pelo governo chinês e de utilizar o seu equipamento para espiar empresas e países.
Estas alegações sobre controlo, propriedade e fraude levantaram suspeitas.
Por isso, tem vindo a ser trabalhado a Lei dos Mercados Digitais ou Digital Markets Act (DMA) e a Lei dos Serviços Digitais ou Digital Services Act (DSA). São movimentos regulatórios robustos e de larga escala, onde o principal ponto de atenção reside no impacto sistémico que ambas as propostas poderão ter no ambiente de negócios europeu.
Além das condições acima mencionadas, é necessário salientar o papel que as finanças digitais desempenham na construção de um ambiente digital sustentável.
As tecnologias digitais seguras e fiáveis são uma condição prévia necessária para que as transações financeiras possam florescer.
A migração para uma sociedade sem numerário é um primeiro passo necessário que os utilizadores só estarão inclinados a dar se houver benefícios tangíveis.
Um desses benefícios é a redução dos custos de transação — uma experiência de pagamento sem descontinuidades entre utilizadores e agentes.
As finanças digitais também transformaram os mercados de capitais.
Uma tendência bastante notável é a emergência do crowdfunding como um método alternativo para angariar capital.
Outra tendência importante é o aumento das plataformas digitais, muitas das quais são unicórnios.
As startups estão a atingir uma valorização de mil milhões a um ritmo mais rápido: o tempo médio para uma empresa tecnológica norte-americana tornar-se pública passou de 11 anos, em 1999, para 4 anos, em 2011.
A formação de megafundos e a disponibilidade de capital de risco deixam cada vez mais poucos incentivos para que as plataformas se tornem públicas na bolsa.
As empresas orientadas pela procura tendem a demorar muito tempo a desenvolver um modelo de receitas sustentável; a abertura ao público sujeitá-las-ia a escrutínio e a pressão que poderia fazer descer o valor.
A lógica das empresas emergentes (startups) na criação de modelos de negócio de risco é determinante na velocidade com que a inovação é implementada.
Encontrar um crescimento sustentado a longo prazo continua o desafio na economia das empresas e das plataformas.
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