Será que a nova empresa Meta e o investimento no desenvolvimento do metaverso Facebook vão ter efeitos económicos e políticos reais?

Na Web Summit 2021, o tema esteve muito presente, aliás, foi a última sessão a que assisti, já com a cabeça na edição de sexta-feira da newsletter «A melhor informação da semana». 
Em várias das talks e debates da conferência, esteve sempre presente o facto de o Facebook mostrar uma incapacidade empresarial para gerir o conteúdo das suas operações globais devido a um impulso de expansão para mais utilizadores.

Zuckerberg deve receber méritos pela jornada no desenvolvimento da Internet, mas é um facto que não foi responsabilizado pela forma como a empresa otimiza as interações para reter as pessoas nas suas plataformas.

O Metaverso e a Realidade Virtual são cativantes?

A nova missão do Facebook num mundo com a Internet poderia ser interpretada com a Internet+

Temos hoje 4,66 mil milhões de pessoas com acesso à Internet, sensivelmente 60% da população que sabe poder ligar-se à Internet a partir de qualquer lugar e de qualquer dispositivo. 

A grande missão «Metaverso Facebook» soa muito parecida com um branding à Realidade Virtual (RV).

O futuro do Facebook em RV vai utilizar o seu poder de escalar digitalmente serviços para 2,85 mil milhões de utilizadores e tornar acessível noutro lugar do mundo.

O objetivo do Facebook não é a Internet, mas sim a expansão para todo e qualquer meio.

A minha melhor interpretação do que o Facebook está a construir é um mundo RV-first, em que qualquer pessoa com computador, telemóvel, artigos de vestuário e óculos de Realidade Aumentada pode entrar no novo «metaverso facebook».

Leia também: Metaverso o que é

Metaverso e os computadores:

Até ao final desta década, vamos chegar a um ponto onde os dispositivos RV vão começar a ser claramente melhores para quase todos os casos de utilização do que os nossos computadores portáteis e computadores fixos.

O último estudo da Statista revela que 74% dos americanos tem um computador de mesa (desktop) e um computador portátil (laptop).

A nível mundial, dados da Forester Research estimam a existência de 2 mil milhões de computadores.

A Realidade Virtual será um «destino» e o Realidade Aumentada será um «acompanhamento».

A Microsoft é um dos principais concorrentes do Facebook no espaço do metaverso. 


O metaverso da Microsoft

Até à data, a Microsoft tem-se concentrado na realidade aumentada com a HoloLens, mas parece-me claro que a empresa deveria também fazer investimentos na realidade virtual (e antes de discutir o ângulo da Xbox).

Foi, por isso, anunciado que a partir de 2022, a Microsoft vai permitir que reuniões virtuais através do Teams aconteçam utilizando avatares 3D, criando um universo de bonecos digitais que podem interagir entre si.

metaverso microsoft

O recurso foi batizado de Mesh. Segundo a Microsoft, as empresas vão poder criar o seu próprio Metaverso, em que os seus funcionários podem interagir num universo virtual. Os avatares 3D parecem ser o pilar central desse Metaverso, conceito que ganhou força após a troca de nome do Facebook.

A animação dos avatares, no início, deve seguir o tom de voz usado pela[RA1] . A tecnologia deve funcionar em smartphones, computadores e dispositivos de realidade virtual. A expectativa é que a função seja aperfeiçoada com o tempo.

«Seja qual for o dispositivo, a tecnologia de realidade mista dará a cada utilizador um avatar que proporciona uma sensação de presença, que permite que eles sejam o seu eu expressivo quando não querem aparecer na câmara», afirmou ainda a Microsoft.


Desafios da realidade virtual

Um dos maiores desafios com a realidade virtual será convencer os clientes a experimentarem-na.

Em agosto, o Facebook anunciou os Horizon Workrooms

Os funcionários são mais propensos a utilizar um headset RV se este for comprado para eles, como aconteceu com os PC na década de 1980 (abriu o mercado e espaço para o consumidor).

Ninguém quer utilizar a sua conta do Facebook no trabalho.

Microsoft, em contraste com o Facebook, tem hoje em dia uma grande marca; esta é outra razão pela qual a empresa poderia ter uma boa oportunidade no espaço.

Penso que as aplicações empresariais serão as primeiras a ter sucesso se a RV se tornar uma mainstream.

Assisti à talk do Brad Smith, presidente da Microsoft na Web Summit, que referia que a maior vantagem da Microsoft em comparação com outras Big Tech era a sua forte presenta no mercado corporativo da indústria.

Recomendo a leitura do Livro Tools & Weapons, achei muito interessante.

A Microsoft vê o metaverso como uma espécie de simulação do mundo real, em que os profissionais podem criar e errar nos seus projetos, analisar situações e prever acidentes, mas tudo com a segurança do mundo virtual, ou seja, sem o risco de consequências reais.


Metaverso e os Telefones:

Há muita especulação sobre se o Facebook voltará a tentar criar um smartphone próprio, mas estou cético. 

iOS e o Android têm uma quota de mercado impressionante.

Mobile-Operating-System-Market-Share-Mundo
Quota de Mercado | MUNDO
Mobile-Operating-System-Market-Share-Portugal
Quota de Mercado | PORTUGAL

Meta Platforms Inc., a empresa anteriormente conhecida como Facebook Inc., está a desenvolver um relógio inteligente com câmara frontal e ecrã arredondado.

metaverso facebook

A fotografia mostra um relógio com um ecrã e um invólucro ligeiramente curvo nas extremidades. A câmara virada para a frente – semelhante ao que se vê num smartphone – aparece na parte inferior do ecrã com um botão de controlo para o relógio do lado direito.

Mais uma vez, penso que a comparação com a Microsoft é útil: é claro que o metaverso do Facebook deveria ser acessível a partir de telemóveis, através de aplicações, mas suspeito que a suposição é que a experiência superior é via RV (tal como a experiência superior da experiência de produtividade da Microsoft é via PC).


Metaverso e os óculos inteligentes com câmaras de vídeo

Óculos inteligentes com câmaras de vídeo são uma realidade atual e os do Facebook Ray-Ban são a melhor implementação de sempre. 

Não se parecem com óculos de computador e, aparentemente, são muito fáceis de usar, baseados numa peça icónica e associados a uma marca de referência que gera confiança.

O que está muito longe, porém, são os óculos de Realidade Aumentada, que projetam informação para o mundo real. 

Aqui, um relógio parece ser um stopgap inteligente: «Capta a realidade através de óculos e recebe a realidade através do seu relógio.»

O Facebook é certamente limitado pela ausência de um telemóvel com  marca própria – a Apple irá, quase certamente, descarregar muitos cálculos dos seus futuros óculos para o telemóvel, tal como faz com o seu relógio -, mas este emparelhamento parece muito mais acessível a curto prazo do que os óculos de Realidade Aumentada puros.

Embora a Microsoft esteja bem posicionada, os dois concorrentes mais óbvios para este espaço são a Apple e o Facebook. 

O primeiro tem uma tonelada de vantagens, incluindo o facto de possuir equipamento físico (hardware) e um sistema operativo (software) para smartphones, e tem uma marca de confiança. 

O Facebook, porém, começou com RV – a Apple pode tentar ir diretamente para Realidade aumentada, o que será um problema se tiver o uso mais importante.


Microsoft & Apple concorrentes de RV e RA.

A inovação vem de startups, sem limites pelas restrições do seu negócio.

Pelo menos, quando se trata de software e serviços. 

Porém, o hardware é excecionalmente caro de desenvolver e vender à escala. 

Que grandes plataformas baseadas em hardware nasceram de startups

A Microsoft teve o apoio da IBM, o iPhone veio da Apple, e o que mais existe significativo em grande escala? 

Nas consolas, a Playstation veio da Sony e a Xbox da Microsoft, e ambas dão prejuízo – muito dinheiro enterrado, do que o normalmente disponível para um arranque financiado por uma empresa.

Penso que a primeira questão sobre o metaverso é se ele alguma vez existirá com uso prático para empresas e consumidores em geral.

A segunda é se o domínio será de uma empresa como a Apple ou Microsoft ou se o Facebook será pioneiro a desenvolvê-lo.

Se a resposta a ambas for sim, então, o valor esperado desta aposta parece elevado.

O Facebook tem desvantagens reais em relação à Apple ou à Microsoft, mas tem a energia fundadora.