O Wall Street Journal (WSJ) continua a publicar histórias sobre o The Facebook Files, com base em relatórios e memorandos partilhados por funcionários da maior rede social do mundo.


Os «The Facebook Files», como são conhecidos, detalham:

  • Um sistema opaco e separado de governança para utilizadores de elite (VIPs), conhecido como Xcheck; 
  • Fornecem evidências que para o Instagram pode ser prejudicial, numa percentagem significativa de adolescentes;
  • Revela que muitos partidos políticos mudaram as suas políticas em resposta às mudanças do algoritmo no feed de notícias;
  • As histórias também revelaram uma enorme desigualdade relativamente ao modo como o Facebook modera o conteúdo em países estrangeiros em comparação com o investimento que fez nos Estados Unidos.

No seguimento, o Facebook divulgou esta quarta-feira, 29 de setembro, dois relatórios internos sobre a sua aplicação de partilha de fotos, o Instagram. A ideia seria lavar a face, mostrando que é transparente.

  • «Teen Mental Health Deep Dive», publicado internamente originalmente em outubro de 2019;
  • «Hard Life Moments», publicado originalmente em novembro de 2019, acompanhado com anotações do Facebook que procuraram contextualizar as limitações da investigação e chamar à atenção os seus próprios investigadores por utilizarem uma linguagem imprecisa.

A empresa preparava-se para duas audiências no Congresso americano, na próxima semana, com foco nos efeitos na saúde mental das crianças.
Já lá vamos.

Escândalos Facebook: o sabonete de enxofre

O sabonete de enxofre é uma opção barata para uma ação anti-inflamatória, ora vejamos:

  • A MIT Tech Review descobriu que, apesar do investimento significativo do Facebook em segurança, em outubro de 2019, as fazendas de trolls, no Leste Europeu alcançaram 140 milhões de pessoas por mês com propaganda.
    O Facebook falhou em priorizar mudanças fundamentais em como a sua plataforma promove e distribui informações.
  • A ProPublica investigou o Facebook Marketplace e encontrou milhares de contas falsas que participaram de uma ampla variedade de golpes.
    As publicações no Marketplace direcionaram os compradores a entrar em contacto com um endereço de email controlado pelos piratas informáticos.
  • O New York Times revelou que o Facebook tem feito investimentos para melhorar a sua reputação, em parte, com a promoção de histórias pró-Facebook no feed de notícias, um esforço conhecido como «Project Amplify».

A maioria dos escândalos do Facebook vêm e vão.
Mas este parece diferente dos escândalos do Facebook do passado, porque foi liderado pela própria força de trabalho da plataforma.


Relembrando a Cambridge Analytica: o sabonete líquido

A última vez que o Facebook esteve sob intenso escrutínio público foi em 2018, quando o escândalo de privacidade de dados da Cambridge Analytica abalou a empresa. 

Foi um escândalo estranho por muitos motivos, entre os quais o facto de a maioria dos seus detalhes ter sido relatada anos antes. 

O que o transformou numa história internacional foi a ideia de que agentes políticos procuraram usar o vasto tesouro de dados demográficos do Facebook num esforço para manipular os americanos para que votassem em Donald Trump.

Hoje, quase todos concordam que o que a Cambridge Analytica chamou de «segmentação psicográfica» foi um golpe de marketing exagerado. 

Mas a ideia de que o Facebook e outras redes sociais estão gradualmente a remodelar sociedades inteiras com a sua captação e uso de dados, práticas de publicidade, algoritmos de classificação e métricas de engajamento permanece em grande parte uma torneira com água corrente que, mais pingo menos pingo, vai pingando informação.

O Facebook é um grande negócio de dados pelo facto de os seus anúncios serem muito eficazes a levar as pessoas a efetuarem compras

A empresa quer que acreditemos que não é igualmente eficaz em fazer com que as pessoas mudem as suas políticas?

Instagram e a saúde mental: sabonete de glicerina

O principal uso do sabonete é na higiene pessoal, por isso é necessário esclarecer que a glicerina não é um agente de limpeza, é formada através da reação de gorduras com soda cáustica.

Num slide do relatório divulgado (partilhado em cima), está escrito que «um em cada cinco adolescentes diz que o Instagram os faz sentir pior sobre si próprios, sendo as raparigas britânicas as mais negativas». O Facebook escreveu ainda na sua anotação que a pesquisa não pretendia sugerir uma ligação causal entre a app e o bem-estar. 

O Facebook publicou a pesquisa, enquanto se debate de novo com questões sobre se o Instagram é intrinsecamente prejudicial como serviço. 

Artigos publicados pelo The Wall Street Journal, este mês, mostraram que a rede social sabia de muitos dos males que estava a causar, incluindo o facto de as principais adolescentes do Instagram se sentiam pior com os seus corpos, aumentando as taxas de ansiedade e depressão.

  • Será o Facebook uma força causal desta coordenação para fins maléficos, ou simplesmente o meio mais acessível, facilmente substituível por outra rede social – por outras palavras, será isto simplesmente um problema da Internet?
  • E quantos destes males sociais vão mais fundo do que isso?
  • O tráfico humano, a venda de órgãos, a violência étnica… Infelizmente, todos estes fenómenos são anteriores à Internet. O Facebook tem culpa atribuída às instituições e sociedades falhadas?

Independentemente do nível de responsabilidade do Facebook, a maior rede social do mundo não está a investir muito nas áreas geográficas onde os crimes contra a humanidade estão a ocorrer.

Em 2020, funcionários e empresas contratadas pelo Facebook passaram mais de 3,2 milhões de horas a pesquisar e etiquetar ou, em alguns casos, a retirar informações que a empresa concluiu serem falsas ou enganosas, mostram os documentos. 

Apenas 13% dessas horas foram gastas a trabalhar em conteúdo fora dos EUA. 

A empresa passou quase três vezes mais horas fora dos EUA a trabalhar na «segurança da marca» para garantir que os anúncios não aparecem ao lado dos anunciantes de conteúdo que podem ser censuráveis.


O apelo dos legisladores e reguladores: sabonete de alcatrão

Após a renovada onda de críticas, o Facebook anunciou na segunda-feira que tinha parado o desenvolvimento de um serviço Instagram Kids, que seria adaptado para crianças com 13 anos ou menos.

O Facebook disse ter fornecido os relatórios de investigação interna ao Congresso na quarta-feira. 

No dia seguinte, Antigone Davis, chefe global de segurança do Facebook, testemunhou numa audiência da subcomissão do Senado sobre saúde mental e redes sociais. 

Na próxima semana, um denunciante do Facebook, que não foi identificado publicamente, também testemunhará aos legisladores sobre os efeitos do Facebook e da Instagram nos jovens utilizadores.

«O Facebook sabe que os seus serviços estão a prejudicar ativamente os seus jovens utilizadores»

disse a Senadora Marsha Blackburn, a republicana presente no subcomité.

O sabonete de alcatrão tem uma ação desinfetante e antisséptica.
O Facebook tentou agressivamente reformular a sua imagem este ano, inclusive usando o seu news feed para promover algumas histórias pró-Facebook. Investiu forte nos média tradicionais com anúncios de jornais, muppies, banners em newsletter. Todos eles chegaram ativamente a Portugal.

A ideia é criar um distanciando de Mark Zuckerberg, o seu chefe executivo, dos escândalos.


Os investidores estão a perder a confiança no Facebook: sabonete natural

As ações da rede estão a ser negociadas com uma avaliação mais baixa, se comparada com outras grandes empresas de tecnologia de consumo.

Mais significativamente, o Facebook está agora a negociar com o valor mais baixo, em comparação com a avaliação da Alphabet, de acordo com dados da Koyfin (ver gráfico em baixo).

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Esse desempenho ocorre apesar de uma alta de 25% no seu preço neste ano, que elevou a sua capitalização de mercado para US $ 1 trilião. 

Há vários fatores que estão a afetar as ações do Facebook: 

  • Preocupações com o impacto sobre o negócio de publicidade;
  • A repressão da Apple à segmentação de anúncios;
  • A enxurrada constante de cobertura negativa na impressa;
  • Processos antitrust dos governos norte-americano e europeu.

É um sinal do nervosismo crescente dos investidores sobre os desafios que as empresas de redes sociais enfrentam.

O Facebook alertou que as restrições da Apple às empresas de internet rastrearem utilizadores estavam a afetar o seu negócio de publicidade, o que levou as ações a baixar.

O vice-presidente de marketing de produto da empresa, Graham Mudd, escreveu no blog que as novas restrições da Apple estavam a prejudicar a capacidade do gigante da rede social direcionar anúncios. 

A sua declaração deu o alerta para a possibilidade de alguns anunciantes procurarem outro lugar para chegar à sua audiência.

A Google não seria tão afetada pelas mudanças.

Outros em Wall Street minimizaram a importância da queda de valor do Facebook.

«As pessoas estão sempre preocupadas com a desaceleração do crescimento»

disse Michael Nathanson, analista da MoffettNathanson. 

«Desde o escândalo Cambridge Analytica que permitiu a campanha Trump usar os dados de utilizadores para anúncios segmentos, o Facebook não viu nenhum obstáculo no seu crescimento.»

Nathanson disse que os problemas do Facebook são de curto prazo. 

Os investidores estão atualmente focados na receita do quarto trimestre e no escrutínio regulatório.

O Facebook sempre coexistiu com alguma «forma de incerteza», disse Brian Wieser, ex-analista de Wall Street que atualmente é presidente global de inteligência de negócios na empresa de investimento em média do GroupM. 

Acrescentou que houve sempre a preocupação de que as controvérsias do Facebook pudessem prejudicar os seus negócios.

O sabonete é um produto utilizado para a higiene pessoal, composto principalmente por gordura e óleos, além alguns aditivos complementares responsáveis pela fragrância.

O Facebook está a produzir gorduras de qualidade superior e substâncias derivadas, com corantes, que estão a afetar a perceção das pessoas sobre a segurança das plataformas que dirige (Facebook, Messenger, Instagram, WhatsApp), a ausência de comunicação transparente e, acima de tudo, confiança, ou a falta dela.

Talvez precise de uma higienização na forma como trabalha com um acompanhamento legislativo.