Quais são os custos do salário mínimo?
Como podemos aumentar os ganhos daqueles que estão na base da pirâmide?
⭐ A importância da valorização dos salários é importante.
James Kwak, professor de Direito na Universidade de Connecticut, no livro “Economism: Bad Economics and the Rise of Inequality (2017)” fala dos efeitos económicos do salário mínimo nos mercados.
Por exemplo, quando o empregador tem poder de monopólio na contratação de trabalhadores, restringe o número de trabalhadores contratados e paga o salário mais baixo que um trabalhador está disposto a aceitar legalmente.
Esses empregadores com poder de mercado que empregam um grupo bastante uniforme de trabalhadores (normalmente pouco qualificados) como os estabelecimentos de fast food, são um bom alvo para o salário mínimo, de acordo com a teoria económica.
Um salário mínimo pode forçar esses monopólios a pagar um salário mais alto, eliminando o incentivo para limitar a força de trabalho.
Entre os países da UE, apenas 0,2% do total são grandes empresas (0,1% em Portugal), mas são estas que mais contribuem para a economia, tanto em número de empregos como em valor gerado.
São as pequenas empresas dominam o tecido empresarial português.
Num total de 833.028 de pequenas e médias empresas (PME) no país, 99,3% são de pequena dimensão e as restantes de média.
É o segundo país da União Europeia onde o peso é mais elevado.
De acordo com os dados do Ministério do Trabalho em Portugal relativos a 2018, quase um terço (32,5%) dos trabalhadores no sector do alojamento e da restauração auferem o salário mínimo. A restauração é um dos sectores mais afectados pela crise e não vai estar a recrutar nos próximos tempos, antes pelo contrário.
“Existe o risco de um aumento do salário mínimo forçar o encerramento de algumas empresas”, assinala João Cerejeira, professor da Universidade do Minho.
O Governo português arrancou esta legislatura com os olhos postos numa meta: atingir o salário mínimo de 750 euros até 2023, mas a pandemia do novo coranavírus pode ter trocado as voltas a este plano.
Adiar ou não adiar?
Segundo as mais recentes previsões (de Outubro de 2020), o Fundo Monetário Internacional (FMI) antevê que o Produto Interno Bruto (PIB) Português registe este ano (2020) uma contração de 10%. Será, como tudo indica, a maior quebra da economia Portuguesa desde o início do século XX
Na Alemanha 3,5% do total dos empregos recebem o salário mínimo, mas em Portugal são mais de 20% dos trabalhadores.
😔 Os trabalhadores com salário baixo vivem em ciclo vicioso.
Muitos trabalham em vários empregos.
O stress associado prejudica a saúde física e mental.
Na verdade, esse stress reduz o funcionamento cognitivo.
A estudo da Harvard Business Review neste tema, salienta que o desempenho é prejudicado, porque é mais difícil manter um bom atendimento, focar no trabalho, ser produtivo e fazer o melhor pelos clientes ou colegas de trabalho.
🧗♂️ Não é novidade que esses trabalhadores acham difícil subir na escada de oportunidades.
Salário mínimo: O ciclo vicioso
O ciclo vicioso para trabalhadores com vencimento baixo, também é um ciclo vicioso para as empresas.
A alta rotatividade leva a problemas operacionais que prejudicam as vendas e os lucros.
Lucros reduzidos, por sua vez, impedem as empresas de investirem mais nos trabalhadores, causando ainda mais instabilidade.
Os próprios salários afetam a qualidade desse trabalho e, portanto, o valor produtivo do trabalhador e as perspetivas de carreira.
As conversações do salário min. voltam no final de 2020 e, até lá, o Governo deve pensar como é que pode apoiar as empresas.
As variáveis no processo de decisão sobre a definição do salário mínimo são diferentes de país para país, com impacto no mercado de trabalho e na competitividade da economia.
Portugal tinha, em 2000, o custo de mão-de-obra mais barato da União Europeia (UE)
Daniel Bessa, ex-ministro da Economia de António Guterres, chegou a dizer em 2016 “Portugal tem de aproveitar a sua mão de obra barata”.
O “Forum para a Competitividade” 🇵🇹 sustenta que, com a taxa de desemprego, acima dos 7% devia haver uma interrupção automática da subida extraordinária do salário mínimo, porque vai aumentar mais desemprego e mais falências.
Na Europa, Luxemburgo tem um salário mínimo de 2.071€ e a Irlanda de 1.681€.
As pandemias criam simultaneamente crises do lado da oferta e crises do lado da procura
No estudo de 2020 “Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu”, de Sergio Correia, Stephen Luck e Emil Verner, os autores, que estudaram a Gripe Espanhola de 1918-1919, mostram que as recessões económicas provocadas pelas pandemias são diferentes das recessões resultantes dos ciclos económicos.
As perturbações que se seguiram à pandemia de 1918-1919 reduziram muito a capacidade produtiva das empresas, mas a diminuição do emprego, que também ocorreu então, originou que as pessoas perdessem poder de compra.
As estimativas revistas em Outubro de 2020 pelo FMI para o PIB Português confirmam isso mesmo. Logo a seguir à Espanha e à Itália, que se estima tenham quebras do PIB real de 12,8% e 10,5%, respectivamente, vem Portugal, com uma quebra de 10%.
Neste contexto de profunda crise e incomensurável incerteza o Governo Português pretende, por ato legislativo, o aumento do salário mínimo em 2021.
Compreendo que vamos carregar as finanças públicas com aumentos de salários quando o Estado tem muito pouca receita, mas os poucos euros do aumento são necessários e não podem ser continuamente adiados.
⬆️ Se queremos elevar o status de uma organização, marca, produto, pessoas, Portugal tem que deixar de ser considerado “mão de obra barata”.
💰 E isso só acontece aumentando rapidamente o salário mínimo.