É a Inteligência Artificial (IA) generativa o novo ouro do marketing digital ou um campo minado que ainda temos de desbravar?
Esta é a pergunta que se impõe aos profissionais de marketing à escala global.
Uma pesquisa recente da Salesforce revelou que 51% dos profissionais de marketing já estão a usar IA generativa, e outros 22% planeiam adotá-la em breve.
No entanto, por trás destes números otimistas, esconde-se uma complexidade que pede a nossa atenção.
O Dilema da Confiança na IA
Se falássemos sobre marketing e IA há cinco anos, a conversa seria sobre potencial.
Agora, a conversa mudou para a implementação prática, mas com uma reviravolta – a confiança.
Como podemos confiar nas máquinas com os nossos dados mais sensíveis?
O dilema é genuíno.
Apesar de 51% dos profissionais de marketing já estarem a usar ferramentas de IA generativa, a confiança nas empresas ainda é uma questão pendente.
Isto levou a Salesforce a propor cinco pilares para o desenvolvimento responsável de IA generativa:
– precisão;
– segurança;
– honestidade;
– empowerment;
– sustentabilidade.
Estes pilares podem ser considerados uma «escada para a confiança», como apontado por Fatemeh Khatibloo, diretora de IA responsável e tecnologia na Salesforce.
Há mais fatores a emergir como determinantes para angariar a confiança dos profissionais de marketing e dos stakeholders empresariais.
Transparência e Rastreabilidade
Um dos grandes obstáculos para a confiança é a chamada «caixa-preta» de IA, onde os algoritmos operam sem transparência ou explicabilidade. A procura crescente é por modelos de IA que possam ser auditados e cujas decisões possam ser rastreadas. Isso permite uma maior confiança no sistema e facilita a sua adoção em áreas críticas para o negócio.
Formação e Alfabetização em IA Generativa no Marketing
Para conquistar a confiança, as empresas precisam de investir na formação dos seus colaboradores.
O objetivo é criar uma cultura organizacional que entenda não apenas os benefícios da IA, mas também os seus limites e riscos. Desta forma, a IA deixa de ser um «bicho de sete cabeças» e torna-se uma ferramenta útil e compreendida por todos.
Envolvimento dos Stakeholders
Muitas decisões de IA têm impacto em diversos grupos: acionistas, clientes, fornecedores e até na sociedade. Portanto, é fundamental envolver todos estes stakeholders no desenvolvimento e implementação de soluções de IA.
Um sistema construído com múltiplas perspetivas é muito mais provável de ganhar a confiança de todos.
Regulação e Ética
Não podemos esquecer o papel que a legislação e as diretrizes éticas têm na construção de uma infraestrutura de Inteligência Artificial confiável. Com o advento de leis como o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) na União Europeia, torna-se imprescindível que as empresas sigam rigorosos padrões éticos e legais.
IA como um parceiro e não um substituto
Finalmente, é importante realçar que a IA deve ser considerada como um complemento ao julgamento humano, e não uma substituição.
Esta perspetiva pode aliviar muitas preocupações e ajudar a construir uma relação de confiança mais sólida entre humanos e máquinas.
A Humanização da Máquina
«Manter um humano no circuito» torna-se então o mantra.
Porquê?
Os humanos podem assegurar que o conteúdo gerado pela IA está alinhado com as diretrizes da marca e que os dados dos clientes são tratados de forma ética.
Além disso, há questões que necessitam do julgamento humano, especialmente quando a empatia está em jogo.
A Maturação da Tecnologia
Se pensarmos nas notícias recentes, a Foxconn e a Nvidia anunciaram uma parceria para construir «fábricas de IA», destinadas a melhorar as capacidades dos carros autónomos.
Esta evolução marca um passo significativo no reconhecimento da IA como um elemento-chave não só no marketing, mas também em setores como o automóvel.
Segundo o CEO da Nvidia, Jensen Huang, «surgiu um novo tipo de produção – a produção de inteligência. E os centros de dados que a produzem são fábricas de IA». Tal declaração realça que a IA já não é apenas um complemento, mas sim um pilar na nova era da produção e do marketing.
O marketing à escala global está, então, a entrar numa nova era, impulsionado pelas potencialidades da IA generativa.
Contudo, o caminho para uma implementação bem-sucedida passa por construir um ambiente de confiança e assegurar a interação humana.
É um equilíbrio delicado, mas absolutamente necessário para desbloquear todo o potencial desta tecnologia revolucionária.
No entanto, a IA generativa posiciona-se como um divisor de águas no universo do marketing digital, isto porque oferece potenciais revolucionários, mas carrega perguntas essenciais sobre confiança e responsabilidade.
A tensão está nas mãos de profissionais de marketing, empresas e reguladores, pois todos são atores num palco que exige um equilíbrio entre inovação e integridade.
Assim, a IA já não é um futuro distante ou uma margem adicional na estratégia empresarial. É já um pilar na nova era da produção e do marketing, considerada uma aliança e uma simbiose entre máquina e homem.
A IA generativa pode muito bem ser o novo ouro do marketing digital, mas só se for explorada de forma responsável, transparente e, sobretudo, humana, para se tornar verdadeiramente valiosa.
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