Digital “como em tudo na vida o mais importante é sermos razoáveis”*
A “ mobilidade e a appification: mobilidade ou desafio” foi o mote para nos fazer um refresh sobre a coabitação da privacidade, a inovação e internet, conferência que decorreu na Culturgest, em Lisboa, com um conjunto de peritos, onde se evidenciou um novo mundo com desafios a exigir equilíbrio. Em causa a criação tecnológica, mas também em consequência dela, a importância da preservação da privacidade e segurança, bens humanos pelos quais o mercado digital, responsável, deverá evitar que sejam esmagados porque são valores civilizacionais.
Carlos Elavai, líder de projecto da Boston Consulting Group, alerta para uma economia crescente das novas tecnologias onde o Marketing Digital fomenta negócios que vão otimizar uma nova economia e fomentar “apps”(aplicações). Em 2017 vão existir países com níveis de cobertura mobile de 90% e os utilizadores de serviços vão aumentar seis vezes mais. A economia mobile está a crescer e em quatro anos , as receitas destes serviços vão duplicar. O futuro vai alargar a setores como a educação, a saúde e cada vez mais empresas adotam estas tecnologias. As tradicionais, disse, vão ter de adaptar-se ao novo mundo se não quiserem perder e se pretenderem diferenciar-se no mercado.
Luis Borges Gouveia, um professor da Universidade Fernando Pessoa, especialista em engenharia e ciências da computação e que nas tecnologias se interessa pela questão humana, observa que as “redes aumentam o valor do indivíduo e o indivíduo aumenta o valor nas redes”. (Metcalfe’s law) Em sua opinião, os “dados” são o “novo capital” e quem comanda e controla tem de encontrar soluções fora da tecnologia e não por causa da tecnologia. A privacidade, referiu, “não é um direito adquirido pois alterou-se para um activo a adquirir”.
Reafirma que estamos perante um novo mundo, onde o computador está no meio de nós, como um dom da ubiquidade. Está em todo o lado. Colaborar, explorar e partilhar, são os novos conceitos para a informação que “ou se usa, ou se perde!”. Mas, alerta, é preciso garantir a privacidade e segurança, a proteção de dados, a transparência, o domínio público e o domínio privado.
Clara Guerra, consultora coordenadora, da Comissão Nacional de Protecção de Dados e participante em vários trabalhos releva a importância da confiança dos consumidores e da sua segurança.”A privacidade é um bem” . Recorda que as “apps” (a utilização média descarrega 37 apps diariamente), são um potencial em ascensão e recolhem às vezes de forma excessiva dados pessoais e o cruzamento dos mesmos, pode resultar em violação da privacidade. Nota que está para sair um Regulamento Europeu sobre a protecção de dados, mas os Estados Unidos estão mais avançados. Era bom a convergência entre eles e a consultora defende ser mais útil a existência de padrões globais, para toda a gente.
Considera que as novas tecnologias dão aos cidadãos muitos problemas, mas também muitas soluções e a criatividade e o talento devem ser exercidos também na concepção da proteção da privacidade. As “apps” vieram para ficar, para facilitar a vida, mas, considera a especialista é preciso inovar, mas com responsabilidade, e os criadores têm grandes desafios na defesa da privacidade no mercado digital.
Micael Pereira, jornalista do Expresso treinado a pisar “terrenos difíceis”, palcos de guerra e outros locais onde a liberdade de expressão está amedrontada, nota a importância das “apps” e o seu papel nas primaveras árabes. Quando os governos da Tunísia e Egipto bloquearam a internet , hackers anónimos desbloquearam o seu acesso. Elas também funcionam para a liberdade de expressão, mas tal como os smartphones, dão também todas as informações a nosso respeito. Todos os dias no mundo surgem perto de 1500 apps novas.
Interessante o facto sobre o país com maior penetração no mundo de smartphones é, mais que os Estados Unidos, os Emirados Árabes Unidos (73.8%) . Os Estados Unidos estão em 13º lugar com 53%. Em sua opinião, por mais encriptações e outras formas de controle que existam é sempre possível a sua violação. Recomenda que tenhamos sempre cuidados com recursos à nossa inteligência humana e recorda que num encontro em que participou com uma produtora internacional de documentários, todos foram aconselhados a deixar os smartphones fora da sala…”O mais importante é sermos razoáveis, como em tudo na vida”, alerta.